Depoimento de Luigi Snozzi
“O importante é sempre o conceito da natureza e a questão sobre a qual deve ser a relação entre natureza e arquitetura. Eu sigo o aforismo de um grande amigo meu, o brasileiro Paulo Mendes da Rocha que ganhou o prêmio Pritzker. Ele define a natureza de uma maneira que me agrada muito. Ele diz que a natureza representa a sujeira, é claro que as pessoas se assustam ao ouvir uma frase dessas, especialmente nos dias de hoje. Paulo segue dizendo que a natureza é também a nossa melhor amiga pois sabe que ela não passa de pura sujeira. E o que a natureza faz? Ela nos dá a tarefa de transformá-la. Mas devemos fazer isso de forma inteligente, ai ela se torna muito melhor e mais feliz. Eu gosto dessa idéia. Trabalhar com a natureza é como trabalhar contra ela, dominá-la. Essa é a regra. Não se deve nunca seguir a natureza. Mas os órgãos de preservação paisagísticos estão convencidos que toda intervenção é negativa e deve esconder essas obras. A natureza deve permanecer como sempre foi.
(…)
Eu adoro cidades que não possuem arquitetura nenhuma. Acredito que uma boa cidade não precisa necessariamente de arquitetura. Às vezes, arquitetura e cidade são termos opostos que nem sempre se harmonizam. Eu adoro a cidade de Nova Iorque, por um motivo: em Nova Iorque quase não existe arquitetura, digamos boa arquitetura. O verdadeiro problema da atualidade é definir regras para uma cidade democrática. Apesar da democracia ser a melhor forma de governo, ela traz uma deficiência incrível. Todas as formas de governo tinham noções bastante precisas de suas cidades, como na Idade Média e no Renascimento. Menos a democracia. A única sociedade incapaz de desenvolver uma idéia de suas próprias cidades, é a democracia.”
Luigi Snozzi, transcrição feita a partir de depoimento do autor para vídeo mostrado na exposição suíça da 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (BIA, 2007)
Post enviado por Gabriel Kogan
Filed under: arquitetura do território | 1 Comment
Por estas e por outras opiniões correlatas é que se permitiu que o planeta tenha chegado a uma situação de alerta.
Que falácia acreditar que dominamos… Nem as marés, fenômenos observáveis e repetíveis nos são servis.
A quem se quer enganar?
Com o devido reconhecimento do valor dos arquitetos Paulo Mendes e Luigi e Snozzi, esta orientação de pensamento poderia ser muito mais eficiente, para qualquer regime de governo, se a noção de domínio fosse substituída por ações conjuntas. Seria uma maneira de termos uma forte aliada, ou para satisfazer o pensamento posto pelos arquitetos citados, uma aliada a altura.
Anália Amorim