Polders
Algumas estimativas afirmam que 50% do território Holandês encontra-se abaixo do nível do mar. A história da Holanda funde-se com a história de grandes revoltas naturais que faziam com que o mar adentrasse a terra firme, transformando lugares antes habitáveis em terrenos encharcados e salgados, como em 1134. Desde o século XI, avanços no conhecimento tecnológico foram utilizados na construção da paisagem e conseqüente expansão de áreas para o uso humano.
A história desse processo inicia-se com o uso de técnicas rudimentares de manipulação do solo como a construção de barragens de areia para proteção do mar. O desenvolvimento rápido da engenharia era uma condição para a expansão do território holandês e, assim, para a criação de maiores áreas para usos agrícolas e urbanos. Os terrenos molhados deveriam se tornar secos e propícios para uso. Deveriam ainda se sustentar assim pelo maior tempo possível. A construção desse território era tanto um trabalho intelectual quanto físico, sempre em intensa relação com a natureza. As áreas recuperadas, abaixo do nível do oceano, eram terrenos suscetíveis para que as águas adentrassem novamente, segundo a lei de vasos comunicantes, destruindo a plantação e as habitações.
Um sofisticado sistema de diques, represas e canais, foi ganhando forma ao longo dos séculos e recuperando áreas encharcadas ou construindo terrenos nunca antes secos. A enorme quantidade desses elementos de infra-estrutura possibilitou que eles trabalhassem, muitas vezes, em conjunto e que fossem planejados considerando suas relações territoriais. Esse tipo de sistema integrado de drenagem foi fundamental para garantir a segurança das instalações.
Em grande parte, essa gigantesca construção do território foi possível através da construção de milhares de polders (ou pôlderes). Estima-se que hoje haja mais de 3000 deles na Holanda, alguns com grandes dimensões, maiores do que 50 mil hectares. Os polders possibilitaram a drenagem de 1/5 do território holandês. Os terrenos recuperados ou construídos eram, geralmente, formados por vegetação típica de marisca; um ecossistema úmido, encharcado, constituído por plantas herbáceas. Não se trata exatamente de um pântano por não ser dominado por árvores e sim por plantas baixas, quase sempre submersas. Eram esses os terrenos tomados pelo mar.
Para a construção de um polder são feitos diques em torno das áreas a serem recuperadas. Sistemas de bombas retiram a água no interior desses diques. Os famosos moinhos holandeses são bombas hidráulicas, forma encontrada pelo o homem para usar a própria energia da natureza, o vento, para vencer o desnível da água. Mais tarde foram introduzidos modelos diferentes, usando outras formas de energia, como a máquina a vapor. Uma vez drenados, eram construídos no interior dos polders um sistema de canais. Os canais que estruturam e modulam o território holandês são, antes do que eixos de navegação, soluções técnicas de coleta das águas, sejam provenientes da chuva ou do mar, e possibilitam manter relativamente seco o terreno para uso humano.
A construção dos polders é uma construção histórica do conhecimento humano; trata-se de uma técnica desenvolvida em cada experiência e que foi testada repetitivamente. O Mastenbroek Polder é de 1364 e por ter sido construído sobre uma camada de turfa seca, tem cedido, abaixando ainda mais sua cota. Esse polder é um desafio técnico há quase 700 anos e seu processo de acomodação perpassa todos os séculos desde sua construção. Mesmo assim é considerada uma obra de grande qualidade e um marco importante para as construções de polders na Holanda. Representa a síntese de um avanço técnico para engenharia, agricultura e arquitetura. O conhecimento existente nessas obras é assimilado, aprofundado e transmitido ao longo de centenas de anos.
A construção desses sistemas é uma necessidade para a sobrevivência humana na Holanda; são lugares para agricultura e para expansão da cidade, fundamentais para o desenvolvimento do país. O planejamento, o parcelamento do solo e a construção da paisagem nessas condições adquirem um novo significado: é uma necessidade a priori. Um ditado diz que “Deus criou o mundo e os Holandeses a Holanda”.
Post enviado por Gabriel Kogan
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Tags:Água, Diques, Holanda, Paisagem, pôlder, pôlderes, Polders
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