Aspectos psicológicos (sentir um mundo seco)

09nov08

“Desde tempos pré-históricos, o homem trabalha para criar um ambiente próprio que seja seguro e sustentável. Os povos de pastores nômades organizavam suas casas para defesa e para comodidade. Mais tarde, o cultivo trouxe segurança frente a ameaça da fome; uma árvore prometia a doçura de seus frutos e a proteção da sombra. O esforço fundamental do Homem para proteger-se e prover-se de alimentos teve suas conseqüências, de um modo natural, no desenvolvimento de seu entorno. A partir dos textos mais antigos sabemos que as mudanças que o homem fazia na paisagem foram vistas como belas e estas atribuições estéticas á uma paisagem bem construída se baseiam em uma profunda relação entre segurança e beleza: uma paisagem inóspita pode ter a promessa de visão e claridade, mas é um lugar onde alguém não pode penetrar sem estar preparado.

Existem obras de arte e de artesanato com representações de jardins antigos de algumas regiões áridas e semi-áridas do mundo, e alguns desses jardins ainda podem ser visitados. Em geral, eles eram cercados por altos muros, se organizavam ao redor da água e sua vegetação era escolhida com cuidado. Cultivavam-se flores, árvores, plantas ornamentais e ervas, tanto por suas frutas como para que embelezar os jardins e poder usufruir deles. Utilizavam-se, mais comumente, limoeiros, oliveiras, parreiras e romãzeiras. A liberdade desses jardins relaciona com os limites impostos pelo clima em que eram cultivados, as espécies endógenas e a tecnologia disponível na época. Mesmo em tempos modernos, os tradicionais pátios típicos da bacia mediterrânea e do oriente médio refletem antigas tradições. O cultivo tradicional das colinas do oriente médio sobreviveram até o presente e, apesar de estarem rodeadas por urbanizações modernas, ainda podem ser observados terraços bem conservados, cuidados e cultivados manualmente. Esta forma de agricultura produz um visual totalmente distinto para a paisagem. Os pequenos campos que seguiam proximamente os contornos das colinas eram todos formados por uma relação orgânica entre o Homem e a terra.

Essa paisagem não surgiu como produto de uma busca por um mundo ideal, mas sim do resultado construído a partir das restrições e da possibilidade de levar estes resultados ao limite. A aceitação dessas colinas escarpadas agricultadas com suas terras pedregosas, de águas escassas e de limites tecnológicos antigos, resultou na paisagem que podemos contemplar ainda hoje. As históricas redes de atividades transformaram as colinas em monumentos da engenhosidade e do trabalho humano.

Em tempos modernos, quando Israel estava sendo colonizado por imigrantes Europeus, eles trouxeram com eles a imagem da terra de seus sonhos. Essa imagem, como as pinturas renascentistas da terra sagrada, eram cópias veladas da vegetação da paisagem da Europa Central. Apesar dos imigrantes trabalharem no calor seco do deserto essa imagem não se alterou. Limparam as pedras, araram a terra, plantaram e irrigaram seus novos campos demarcados. Em vários lugares, caminharam para uma revolução que começou a aproximar dos sonhos.

No entanto, existe uma limitação natural para os sonhos: com o tempo, a realidade física da terra, do clima e da água nas áreas em que trabalhavam, revelou um novo entendimento do que era possível e, até mesmo, do que era desejável em cada região. Esse entendimento profundo encaminha-se para uma mudança de curso, uma redefinição da paisagem “ideal” de Israel.

Muitos países com zonas de climas áridos e semi-áridos estão agora encarando a áspera realidade de populações em rápido crescimento que trazem enorme stress para o ambiente. No entanto, a capacidade da tecnologia para atingir cada necessidade ainda tem seu limite. Pode ser que haja luz e pedra em abundância e que, um dia , a uma solução tecnológica provenha ilimitadamente luz e água para populações em terras áridas. Mas talvez não haja tempo suficiente para desenvolver esses remédios antes que a escassez e a destruição do habitat resultem em um problema ainda mais sério. Hoje pode ser debatido o que está crescendo mais rápido; nossas necessidades ou nossas capacidades. Um desequilíbrio entre essas duas coisas pode trazer severos enfrentamentos sociais e políticos.”

In: Shlomo Aronson, “Aridscapes. Proyectar em tierras ásperas y frágiles (designing in harsh and fragile lands)”, Gustavo Gilli, GG. Barcelona, 2008. p. 56-59

 

Post enviado por Gabriel Kogan

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One Response to “Aspectos psicológicos (sentir um mundo seco)”

  1. 1 tiago balem

    olá gabriel, gostei de conhecer o blog. faço mestrado em design territorial em porto alegre e teus assuntos me iteressam. cheguei aqui pelo arte cidade. espero em breve trocar esse conhecimento contigo através do meu blog também. assim q ativar te aviso! parabéns pelo material. abraço. tiago balem


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