Cidade do Tietê – Paulo Mendes da Rocha
A cidade do Tietê de Paulo Mendes da Rocha levanta algumas questões relevantes sobre a forma de tocar a paisagem, desenhá-la, torná-la habitável, sobretudo em relação à questão das infra-estruturas de transporte e de equipamentos públicos. O trabalho é uma espécie de um “protótipo não executado” de uma arquitetura do território.
O domínio do território construiu uma América colonial, voltada para a extração de riquezas. A arquitetura em questão seria uma forma de alterar, a condição colonial, amparando essas construções numa visão humanista. Os projetos territoriais de Paulo Mendes inscrevem-se numa espécie de tradição moderna brasileira (de Vilanova Artigas a Affonso Eduardo Reidy, passando pelo imaginário da construção de Brasília) de redesenhar a paisagem e seu programa.
“A cidade do Tietê foi desenhada como um grande porto fluvial que, interligando as redes rodoviárias e ferroviárias, poderia compor um sistema intermodal de transporte de cargas capaz de sustentar o desenvolvimento econômico de toda a região, estimulando, ao mesmo tempo, o fluxo pelo rio como uma via interior continental a interligar, em ampla escala, a América – da Bacia Amazônica à Bacia do Prata.
Com a construção, no Estado de São Paulo, do sistema de barragens (feitas com as eclusas para navegação), regiões que antes eram inundadas e inóspitas tornaram-se interessantes aparições de uma geografia nova, próximas a leitos de rios agora facilmente navegáveis. A região escolhida entre as cidades de Lins e Novo Horizonte, tem virtude de ficar a meio caminho entre a calha do rio Paraná e a costa, além de distanciar-se aproximadamente 400 km da cidade de São Paulo (o que é considerado uma distância econômica para transporte aéreo).
O sítio escolhido para implantar a cidade é uma extensão plana em torno a um riacho que agora avança sobre o território, uma albufeira. A represa, com 3 km de largura média, estabelece para a cidade uma dualidade com a qual o nosso imaginário já está habituado a conviver, como o canal de São Sebastião-Ilhabela.
O curso do rio, de leste a oeste, é acompanhado, a distâncias próximas a 70 km, pelas ferrovias que seguem para noroeste (na direção da Bolívia) e para sudeste (a Sorocabana), e pela rodovia SP-320. Ao interligá-las, cruzando o rio em sentido transversal, surge a cidade: porto fluvial, pólo de desenvolvimento regional. Ela se diferencia do modelo do “colar de cidades” que se estabeleceu em torno às ferrovias e às rodovias; cidades satélites dependentes e especializadas. Essa, ao contrário, passaria a adquirir uma importância regional direta para o norte do Paraná, o sul de Minas Gerais e o sul do Mato Grosso, além do próprio estado de São Paulo. Diante da primazia do porto de Santos, saturado, abrir-se-iam novas alternativas para a exportação nos portos de Angra dos Reis, São Sebastião, Paranaguá e até mesmo Montevideu-Buenos Aires.
Nos dois extremos da cidade estão locadas as instalações de porte regional: hospital, porto de passageiros, rodoviária, estação de trens, área de comércio atacadista, e um centro de estudos hidráulicos da Universidade de São Paulo. Entre elas, há uma área de comércio e habitação, com aproximadamente 6 km de extensão na área mais densa, cujo eixo é uma via mecanizada central de calha rebaixada. Ao longo da avenida é proposta a instalação de um comércio diversificado, teatros e cafés, e, nos lotes, posteriores, as habitações. A face da cidade para as águas se abre com jardins públicos e centros recreativos e esportivos. Do outro lado do rio está instalado o setor industrial, com o porto de cargas, estaleiros, armazéns, industriais e um aeroporto.”
ROCHA, Paulo Mendes Archias da in Cosac Naify. São Paulo, Brasil. P. 18 – P. 23
Legenda
A. parque industrial (edifícios especiais, teatros cafés, atrações) B. parque institucional (estação rodoviária, estação ferroviária, porto fluvial, hospital regional, centro de compras, centro esportivo regional) C futura cidade
1. USP 2. Rodoviária 3 escolas médias especializadas 4 ferroviária, rodoviária, porto 5 centro esportivo e náutico popular 6 porto da cidade, parque central da cidade, teatros hotéis, espetáculos 7 comércio central 8 apoio, serviços de manutenção 9 hospital regional 10 indústrias, estaleiros 11 aeroporto 12 base naval 13 base militar 14 jardim botânico 15 abastecimento, indústria local 16 habitação.
Post enviado por Gabriel Kogan
Filed under: arquitetura do território, infra-estrutura e metrópole | 1 Comment
Tags:América, Arquitetura, Arquitetura Moderna, cidades fluviais, Estado de São Paulo, Ferrovias, Hidrovias, infra-estrutura, paulo mendes da rocha, Rio Tietê, Território
Oi, Gabriel
1. Adorei te conhecer. E adorei teu blog. Vou ler mais e com mais calma logo logo.
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bj