Baía de Montevidéu – Paulo Mendes da Rocha
“O projeto para a reconfiguração da baía de Montevidéu surgiu no contexto de um seminário internacional de trabalho na Escola de Arquitetura de Montevidéu, em que cada convidado desenvolveu, associado a uma equipe de alunos e professores, uma proposta tendo a baía como tema.
O problema urbano era evidente: a cidade inteira, em suas comunicações, tinha que girar em torno da baía, tendo-a como um entrave a ser superado. A intenção do projeto foi justamente inverter o problema, fazer a cidade dirigir-se a ela de modo concêntrico, incorporando essa superfície de água.
Nesta baía, rasa como uma laguna, com profundidade média de 2 m, o porto tem que ser permanentemente dragado para que se tenha um canal com maior profundidade. O projeto amplia o porto a partir do canal, criando um píer que o isola, dobrando assim sua área de acesso em terra. Do ponte de vista de uma especialidade urbana a baía tem uma escala extraordinária: contém um círculo quase perfeito com diâmetro de 2,5 km, com uma pequena boca aberta para o mar. Atravessá-la de uma ponta a outra seria como percorrer uma Avenida Paulista. Sua escala é de uma intimidade bastante confortável.
Assim, no projeto, a baía transforma-se em uma praça quadrada de água, com as interfaces retificadas para exibir a nitidez dessa intenção. Nela seria implantada uma frota de barcos, como um transporte leve e de massa para passageiros, representando um estímulo a novos hábitos que aliviaram o engarrafamento de automóveis. Portanto, com uma visão um tanto veneziana da relação entre homem e natureza, da idéia de vida nas cidades, em vez de precisar contorná-la Montevidéu passaria a organizar-se em frente à sua baía; uma nova praça animada, como uma São Marcos inundada.
Nela, há um “ilhote” excêntrico que seria reconfigurado, transformando-se em teatro no mar, coberto por estrutura leve ancorada em superfícies flutuantes, que ao movimentar-se, em noites de lua, poderiam abrir-se, irradiando música para a cidade.
Na desembocadura de saída do hinterland de todo o continente, o porto da Baía de Montevidéu é o mais importante da América Latina, pois além de seu porte, possui capacidade de realizar uma interlocução fluvial – da Bacia Amazônica ao Prata, passando pelos sistemas dos rios Tocantins/Uruguai – que, com o desenvolvimento do comércio de cabotagem, pode vir a alimentar toda uma rede de cidades no interior do território, dando sentido continental ao que poderemos, então, entender como América”
ROCHA, Paulo Mendes Archias da in Cosac Naify. São Paulo, Brasil. P. 218 – 220
Post enviado por Gabriel Kogan
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