Epitáfio

04dez12

pignatari

“Décio Pignatari menino imenso e castanho com tremores

nascido sob o signo mais sincero e para e per e por e sem ternura

quem te dirá do mando que exerceram sobre os teus cabelos

os amigos rápidos as mulheres velozes e os que comem dentro do prato

Estás cansado Pignatari e teu desprezo intumesceu como uma árvore tamanha

Estás cansado como uma avassalada aberta enorme porta enorme

e quando abres os braços repousas os ombros em amplos arcos de pássaros vagarosos

Lento e fundo é o ar de tuas tardes nos teus poros

e dentro dele se desenredam fundos e atentos mesmo os esforços mais assíduos

e se mergulhares tua mão na água que repousa à água acrescentarás a mão e a água

Décio Pignatari menino castanho e meu como um cachorro grande

que atravessa o portão sereno inflorescendo aos poucos no jardim seu garbo

com a calma grandiosa das nuvens que se abrem lentas na tarde para envolver o ar

devagar tua cabeça almeja devagar a superfície sem temores

e tuas pálpebras se inclinam aos eflúvios da sesta mundial de imensos paquidermes

que avolumam na sombra como grandes bulbos insonoros em cavernas dormidas

Mansa dinastia de gestos nas ruínas dulcificando as intempéries da memória

descansa como um cortejo de crepúsculos antigos na cordilheira turva da semana

Crescente como o céu de março nas ameias das torres elevadas e redondas

e à tua própria sombra no mundo que perdeste

descansa Pignatari.”

Décio Pignatari in Rumo a Nausicaa, Noigandres 1. 1952.

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