A arquitetura está morta
Com a morte de Oscar Niemeyer se apaga definitivamente aquilo que estávamos acostumados em chamar de arquitetura. Não porque Oscar tenha inventado a arquitetura, que ressurgira para o mundo ocidental mais de 5 séculos antes de suas primeiras obras; mas porque Oscar – ao lado dos grandes arquitetos modernos que emergiram nas primeiras décadas do século XX, como Le Corbusier, Walter Gropius e Mies Van de Rohe – conferiu sentido à arquitetura como a entendemos.
Niemeyer era o último, ainda vivo, dos grandes arquitetos modernos, arquitetos que sonharam e projetaram um novo estilo de vida e fizeram com que a arquitetura projetasse uma sociedade moderna. A arquitetura como algo socialmente ativo, que provoca e interfere na forma com que se vive em casa e na cidade. Sabendo ou não, querendo ou não, isso nos formou.
Foi essa arquitetura que reconstruiu as cidades europeias depois das duas grandes guerras, suprindo uma gigantesca demanda por habitação. Aqui embaixo, a arquitetura permaneceu como símbolo da esperança por um novo mundo, uma espécie de produção underground. Em poucos anos Oscar Niemeyer, ao lado de alguns outros arquitetos modernos brasileiros como o parceiro Lucio Costa e Affonso Eduardo Reidy, fez com os olhos do planeta fossem voltados para o Brasil. Um país até então periférico culturalmente agora tinha na arquitetura sua forma de produção mais potente. Em poucos anos, entre 1930 e 1960, o Brasil constituiu aquela que talvez seja o mais proeminente conjunto nacional de edifícios modernos em todo o mundo. E nesse proeminente conjunto, Oscar era o mais eloquente dos arquitetos.
As idéias modernas chegaram ao Brasil, sobretudo através da presença de Le Corbusier em 1929 para o projeto do MEC no Rio de Janeiro e Oscar não apenas tropicalizou os ditames corbusianos, mas os colocou em um patamar nunca antes visto. Os brises soleil e o térreo livre ganharam radicalidade impensada na Europa. Poucos anos depois da experiência no Rio de Janeiro, em que era um jovem arquiteto, Niemeyer se libertou das formas puras ortogonais e, se valendo de uma impressionante intuição estrutural, fez com o concreto armado se dobrasse em curvas. Ideais que viriam a abalar as próprias convicções do mestre suíço, que projetaria uma catedral niemairesca em Ronchamp no final da vida.
Oscar Niemeyer nos deixa não apenas um enorme legado de belos edifícios, mas a construção de nossa imagem sobre o que é arquitetura. Uma arquitetura que sonha transformar o mundo; algo que pode parecer bonito, poético e ingênuo em tempos que a arquitetura é convertida em peça de marketing. Resta o desejo de que a arquitetura de Oscar Niemeyer ainda nos ressoe por algum tempo como ecos de um novo mundo.
Gabriel Kogan, 05/12/2012
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Tirou as palavras do meu teclado Gabriel.
Impossível não se manifestar não é?
o sentimento na ponta dos dedos. muito bom, obrigada por suas palavras.
que grande desfile de obviedades, senhor!
ah, e é “embaixo”, mas não sei bem o que o autor quer dizer com “aqui em baixo” (sic)