Os Jornais Anarquistas do Começo do Século XX em São Paulo
“A Terra Livre, O Amigo do Povo, La Battaglia, A Lanterna foram os jornais [anarquistas] de duração mais longa publicados no período, em São Paulo. À frente da maioria deles, estariam alguns quadros estrangeiros já formados nas concepções libertárias, que chegaram ao Brasil entre fins do século XIX e princípios deste século. La Battaglia foi fundada por Orestes Ristori, italiano proveniente do Uruguai. Lembrando como grande propagandista e orador, Ristori sofreu duas deportações do Brasil, a última em 1936. Juntou-se à Brigada Internacional durante a guerra civil na Espanha, sendo morto na Itália, como refém dos nazistas em 1944. Em princípios de 1912, assumiu a direção do jornal Luigi (Gigi) Damiani, uma figura de traços psicológicos diversos de Ristori – “homem de poucas palavras e de sorriso irônico” – mas com formação semelhante. Chegado ao Brasil em 1899, proveniente da Itália onde já fora perseguido como anarquista, passou seis anos no Paraná. Aí trabalhou como pintor de paredes e fundou um jornal, procurando influir sobre os trabalhadores locais. Colaborou com frequência em La Battaglia, antes de assumir sua direção, no Amigo do Povo, e foi expulso do Brasil em 1919, na vaga de deportações daquele ano, tornando-se bastante conhecido nos círculos anarquistas europeus por sua atividade na Itália, ligado a Malatesta. À frente do Amigo do Povo, participando da direção da Terra Livre, da revista Aurora, surgia a figura tímida, avessa às aparições públicas, de Gregório Nazianzeno de Vasconcelos – Neno Vasco. Foi ele talvez o mais lúcido expositor das idéias anarquistas do período, combinando a capacidade de perceber as alternativas centrais da estratégia libertária coma análise das condições da sociedade brasileira, além de ter sido um eficiente organizador. Nascido em Portugal, filho de um comerciante rico, chegou ao país em 1900 ou 1901, após obter o grau de bacharel em Direito por Coimbra. Sua permanência no Brasil estendeu-se até abril de 1911, quando retornou a Portugal, aí morrendo em setembro de 1920. Ao lado de Neno Vasco, na direção da Lanterna, na atividade sindical, o brasileiro que acabou por simbolizar todo o movimento anarquista. Embora nascido no interior de São Paulo (Mogi Mirim, 1881), Edgar Leuenroth, formara suas concepções entre a redação dos jornais e o bairro operário do Brás, onde viveu grande parte de sua vida. Tipógrafo aos 14 anos, a seguir jornalista, teve uma breve inclinação pelo socialismo, no contato com o socialista baiano Estêvão Estrela. Por volta de 1903, iniciou sua longa militância sindical, no Centro Tipográfico de São Paulo, e aderiu ao anarquismo.”
In Boris Fausto, Trabalho Urbano e Conflito Social. Editora Difel, 1977, p. 92 & 93
O periódico ‘A Lanterna: Folha Anti-Clerical de Combate’ pode ser lido online na hemeroteca da Biblioteca Nacional
Post enviado por Gabriel Kogan
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