Estatização do Sistema de Ônibus em Bogotá
Transcrição e tradução do documentário ‘Bogotá: Building a Sustainable City’ (Criando uma cidade sustentável), gravado em 2006. Mais que um modelo pronto a ser seguido, mostra que é possível estatizar o sistema de transporte de ônibus.
Enrique Peñalosa (ex-prefeito de Bogotá): “Quando eu cheguei ao gabinete, eu recebi um grande estudo de transporte para a cidade que foi feito pela Agência Japonesa de Cooperação. Apesar desse projeto propor algumas linhas de ônibus e qualquer coisa de transporte público, ele propunha sete viadutos que custariam mais de US$5 bilhões. Daí eu decidi, “nós não vamos fazer isso”. Nós não tínhamos transporte público! Nós tínhamos um sistema de ônibus extremamente caótico, praticamente composto por ônibus individuais correndo como loucos; paravam bloqueando três pistas de forma que os outros ônibus atrás não conseguiam ultrapassar, jogavam as pessoas no meio das ruas, havia muitos acidentes, os ônibus entravam nas calçadas matando as pessoas. Então, em vez de fazer esse grande investimento em viadutos, eu decidi que as pessoas se locomoveriam por transporte público.”
Maurício Rodriguez: “Foi uma grande batalha. Uma grande batalha porque os ônibus públicos em Bogotá estavam nas mãos de uma máfia. Era um negócio multibilionário. Daí vem Peñalosa e diz, “esqueçam, eu vou acabar com o grosso dos seus negócios e isso será um sistema gerido pelas autoridades locais”.”
Enrique Peñalosa: “Eles eram um grupo político muito poderoso. Que levavam a cidade para o buraco, com uma greve. Nós substituiríamos eles totalmente por um novo sistema. Então havia aí um grande desafio. Com um pedaço de cenoura, preso em um galho, dissemos: “Nós queremos que vocês sejam parte do sistema”. Esses tradicionais operadores dos ônibus seriam os detentores de parte das ações da empresa do novo sistema.”
Maurício Rodriguez: “De fato, alguns desses antigos donos das companhias, que estavam de acordo com certas regras, poderiam fazer parte do novo sistema. Isso foi inteligente: ter eles a bordo.”
Enrique Peñalosa: “Então estruturamos a rede de ônibus, que copiamos e melhoramos de Curitiba, no Brasil. Talvez seja o melhor sistema de ônibus do mundo. Chamamos de Transmilenio.”
Felipe Gonzalez (arquiteto): “Transmilenio mostrou o que Peñalosa queria fazer, porque é um sistema de transporte público que mudou a cidade em volta dele. Criou espaços públicos para os pedestres, que é uma grande virtude do modelo de cidade de Peñalosa. Tornou-se nosso emblema. Nós identificamos Bogotá agora através da Transmilenio.”
Enrique Peñalosa: “Claramente você deve tomar em consideração alguns elementos de marketing. Não é apenas uma questão de engenharia. Transporte público não é só uma questão de engenharia. Nós tínhamos que fazer nosso sistema de ônibus ‘sexy’. Então uma coisa importante foi a cor dos ônibus, os equipamentos, o design e o nome.”
Gabriel Kogan, 19/6/2013
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