O concurso do projeto do Centro Pompiou segundo Richard Rogers: “Quem queria fazer um centro cultural centralizado quando tudo mundo falava sobre descentralização?”

05jan14

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Em 1970, o Governo da França lançou o edital para o concurso de propostas arquitetônicas de um grande centro cultural na região do Marais em Paris. O projeto ganhador para a sede do chamado Georges Pompidou (Centro Nacional de Artes e Cultura) foi anunciado em 1º de Julho de 1971. Ninguém esperava ouvir do memorial do estrelado júri chefiado por Jean Prouvé, e que contava também com Oscar Niemeyer e Philip Johnson, o nome de dois arquitetos muito jovens (então com menos de 40 anos) – Richard Roger e Renzo Piano. A decisão foi incontestável. O Centro Georges Pompidou é um dos mais revolucionários projetos da segunda metade do Século XX. No depoimento que segue, traduzido especialmente para o Cosmopista, Richard Rogers, fala do clima político pós-Maio de 68 que envolveu o projeto e sobre alguns pressupostos de desenho.

“A coisa mais importante – e, em certo sentido, a mais empolgante – sobre tudo isso [da cultura urbana dos anos 60] era a revolução intelectual e estudantil de 1968, que teve uma imensa importância social e política. [Georges] Pompidou – o então primeiro ministro naquela época – quase teve que escapar do país e tinha até um plano preparado para ir para a Alemanha porque pensou que a França seria tomada em 1968 por estudantes e ‘intelectuais’. E os Estados Unidos estavam fervendo também. Então havia uma tremenda dinâmica e não havia dúvidas que o nosso projeto do centro cultural emergiu dessa atmosfera.

E se vocês olharem as imagens do projeto  apresentadas para o concurso, verão que elas são sobre revolução mesmo, sobre ser contra a guerra, sobre o Vietnã. E o que surge de todo esse espírito é a esperança de mudança. É provavelmente o grande momento em que o capitalismo quase caiu. Em algumas áreas, certamente, começou a colapsar. Mas os anos 70 vieram e tudo ficou quieto novamente. Isso foi terrível, em certo sentido, porque a revolução falhou.

Em termos do design para o concurso do edifício do Pompidou, algumas raízes são muito claras no trabalho do Archigram e de Cedric Price porque isso foi a maior influência arquitetônica dos anos 1960 e se infiltrou no nosso pensamento. Mas vocês podem também traçar um retorno ao futurismo, e especialmente os Construtivistas Russos. Além do conceito da estrutura, havia a ideia da consciência política e social por nós apoiada que provavelmente guiou todo o projeto. (…)

Quando o anúncio do edital do concurso saiu, Ted Happold [chefe do prestigiado Grupo 3 de Estrutura da empresa Arup, responsável por trabalhos na ópera de Sidney] veio a mim e disse: “Que tal fazer esse concurso?”. Foi a primeira grande competição daquela época, fora a da Ópera de Sidney. Inicialmente, eu fui totalmente contra a ideia, e pensei e pensei não se envolver, e fui arrastado para fazê-la. Felizmente, eu fui arrastado para fazer isso.

A razão pela qual eu não queria fazer o concurso é que eu vinha da esquerda política. Então quem afinal queria fazer um centro cultural centralizado em um período quando tudo mundo falava sobre descentralização cultural? E quem queria fazer um palácio para Georges Pompidou? E de qualquer forma, a maioria de nós pensou: “Nunca será construído!”. Então tivemos muitas discussões sobre isso. Por sorte fui voto vencido.” Richard Rogers

Tradução Gabriel Kogan, extraído de ‘Supercritic #3, Richard Rogers, The Pompidou Centre, 2012’.

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One Response to “O concurso do projeto do Centro Pompiou segundo Richard Rogers: “Quem queria fazer um centro cultural centralizado quando tudo mundo falava sobre descentralização?””

  1. 1 Paulo Takimoto

    Ideologias na arquitetura. Surge uma curiosidade a partir daí; quais são os grandes arquitetos (contemporâneos ou modernistas) que se afirmam de direita (já que a maioria sempre se colocou como de esquerda – mesmo que entre a afirmação e a prática profissional exista uma contradição)? Parece que na arquitetura (assim como em outras áreas ligadas à criação/arte) contemporânea poucos se afirmam como X ou Y. Quase todo mundo é neutro e relativo.


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