Carta Aberta a Jerson Kelman

28jan15

volume morto

Segue minha carta aberta a Jerson Kelman, diretor da SABESP, pedindo esclarecimentos sobre questões de saúde pública relacionadas ao abastecimento em São Paulo em tempos de crise:

“Prezado Jerson Kelman,

Não nos conhecemos pessoalmente, mas estamos em lados opostos: você como diretor da SABESP e eu como crítico da empresa.
Assim como imagino que você concorde com a maioria os meus comentários, especialmente meu inconformismo em sua empresa ter 49,7% de capital privado sugando lucros e interferindo na gestão hídrica de toda uma metrópole; eu admito considerar você o melhor profissional para ocupar o cargo de direção da empresa, pelo seu grande conhecimento técnico e institucional do setor. Seu profissionalismo deve envergonhar seus trágicos antecessores que criaram uma situação dramática a levar a cidade inteira para o bueiro. O problema em suas mãos é incomensurável e eu não gostaria de estar na sua posição.
No entanto, gostaria de pedir aqui esclarecimentos sobre questões de saúde pública para a população. Peço-te que deixe de lado a demagogia que caracterizaram as gestões anteriores e tão bem define também nosso atual governador e as demais instâncias governamentais. A pergunta é, basicamente, uma só e espero dados científicos, comprovações irrefutáveis, sem bravatas políticas: a água abastecida pela Sabesp ainda pode ser considerada potável?

1- A qualidade dos “volumes mortos” tem sido sistematicamente testada, incluindo poluentes quase invisíveis como os materiais inorgânicos solúveis, como hormônios e medicamentos? Estamos diante de águas mais suscetíveis a essas interferências, correto?
2- A qualidade da água no destino final (consumidor) está garantida mesmo com as perigosas reduções de pressão da rede que permitem entrada de poluentes do lençol freático no sistema? Esses testes são feitos em vários pontos por quarteirão, em todos os quarteirões da cidade? Você sabe que a pressão da água no lençol freático, assim como a condição da rede e a qualidade da água subterrânea podem variar muito. A qualidade da água é igual em toda a cidade?
3- Estão ocorrendo cortes totais. Como a qualidade da água está sendo mantida sem infiltração do lençol freático nesse caso? Se a pressurização está sendo feita com ar, como garantir que isso não gire medidores de consumo, mesmo sem água?
4- A Sabesp considera a oscilação nas caixas d’água por causa dos frequentes desabastecimentos um fator relevante para aumento de contaminação?
5- Os braços poluídos da represa Billings estão sendo usados para abastecimento? Como a qualidade de água pode ser garantida nesses casos, já que a extração nessas áreas sempre foi, historicamente, considerada perigosa? Houve melhorias nas estações de tratamento para isso?
6- Por que a Sabesp continua baseando seu tratamento em cloro, já que essa técnica já foi proibida na maioria dos países desenvolvidos, inclusive União Europeia? Existe a possibilidade no aumento da incidência de câncer na população por causa de uso massivo de cloro?

Por fim, gostaria de saber se, frente a esses riscos (ou a confluência deles), não seria prudente e responsável recomendar à população que não beba a água da torneira, mesmo com o uso de filtros domésticos. É uma questão de saúde pública, não é possível se privar da responsabilidade em responder essas questões de forma precisa.

Atenciosamente,
Gabriel Kogan”

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One Response to “Carta Aberta a Jerson Kelman”

  1. 1 Paulo Takimoto

    Eu não gostaria de receber uma carta sua…kkk
    Sobre a carta em si; achei bastante precisa. Infelizmente as perguntas dificilmente serão respondidas com a mesma precisão [a não ser que o diretor da Sabesp seja um suicida].
    Uma curiosidade: Quais alternativas vc tem buscado em relação ao consumo de água potável? Esses dias tomei uma garrafinha de água São Lourenço e passei muito mal depois. Cheguei a cogitar comprar aqueles filtros de barro São João pra filtrar qlq água [encanada, mineral], mas não sei se vale a pena.


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